Este blog é um canal de comunicação e partilha entre católicos e não-católicos, com o intuito de criar um espaço de partilha e crescimento espiritual. Participem com sugestões, escritos teológicos, questionamentos e dúvidas sobre a doutrina ou catequese da Igreja, mandem testemunhos e comentários, teremos grande alegria em crescermos juntos na fé.







terça-feira, 5 de abril de 2011

Retorno

Demorou um pouco para iniciarmos as postagens desse ano, mas antes tarde do que nunca!
Esse ano temos muitas novidades em nosso Teologado. A primeira delas é a nossa mudança para Cambé.

Nossa casa chamará "Comunidade de Formação Rainha dos Apóstolos - Teologado Palotino".

Amanhã nós frateres iniciaremos a organização da casa e assim que tiver novidades eu publico para que todos acompanhem o processo.

Outra novidade é o Blog das Vocações - vocpalotinos.blogspot.com - Ajude-nos a divulgar!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Caminhando para o fim do ano

Olá amigos e amigas do Teologado Palotino. Gostaríamos de agradecer a todos vocês que acompanharam o nosso blog este ano. Já estamos quase no fim do nosso primeiro ano em Londrina. O primeiro ano de teologia foi muito exigente, contudo, acreditamos que é para o bem da Igreja. Peço a oração de todos para que tenhamos uma boa conclusão do semestre letivo. Nossas atividades aqui no teologado não se encerram com o término das aulas, estaremos em atividades comunitárias até dia 12 de dezembro, quando acontecerá a celebração do Jubileu de Prata de Ordenação Sacerdotal do nosso querido confrade Pe. Pedro Ramos (pároco da Paróquia São Vicente Pallotti - Arapongas). Agradecemos a todos as visitas e convidamos a divulgarem nosso blog e continuarem acompanhando.
Saudações Fraternas.

sábado, 6 de novembro de 2010

Último Retiro do Ano

Olá caros irmãos e irmãs. Terminamos o nosso ciclo de retiros de 2010 com "chave de ouro". Ontem Pe. Reinaldo Baggio pregou para a nossa comunidade do teologado, mais uma vez ele derramou sua sabedoria e iluminação. O tema para a reflexão foi: "Consagrado: reflexo da beleza de Deus". Foi realmente abençoado nosso retiro e convivência. Deixo para a reflexão de todos um dos trechos do documento "Vita Consecrata" que exprime um pouco das palavras do padre neste retiro.


Como toda a existência cristã, também a vocação à vida consagrada está intimamente relacionada com a obra do Espírito Santo. É Ele que, pelos milénios fora, sempre induz novas pessoas a sentirem atracção por uma opção tão comprometedora. Sob a sua acção, elas revivem, de certo modo, a experiência do profeta Jeremias: « Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir » (20,7). É o Espírito que suscita o desejo de uma resposta cabal; é Ele que guia o crescimento desse anseio, fazendo amadurecer a resposta positiva e sustentando, depois, a sua fiel realização; é Ele que forma e plasma o espírito dos que são chamados, configurando-os a Cristo casto, pobre e obediente, e impelindo-os a assumirem a sua missão. Deixando-se guiar pelo Espírito num caminho ininterrupto de purificação, tornam-se, dia após dia, pessoas cristiformes, prolongamento na história de uma especial presença do Senhor ressuscitado.

Com profunda intuição, os Padres da Igreja qualificaram este caminho espiritual como filocalia, ou seja, amor pela beleza divina, que é irradiação da bondade de Deus. A pessoa que é progressivamente conduzida pelo poder do Espírito Santo até à plena configuração com Cristo, reflecte em si mesma um raio da luz inacessível, e na sua peregrinação terrena caminha até à Fonte inexaurível da luz. Deste modo, a vida consagrada torna-se uma expressão particularmente profunda da Igreja Esposa que, movida pelo Espírito a reproduzir em si mesma os traços do Esposo, aparece na presença d'Ele « gloriosa sem mancha nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e imaculada » (Ef 5,27).

E o Espírito, longe de afastar da história dos homens as pessoas que o Pai chamou, coloca-as ao serviço dos irmãos, segundo as modalidades próprias do seu estado de vida, e encaminha-as para a realização de tarefas específicas, de acordo com as necessidades da Igreja e do mundo, através dos carismas próprios dos vários Institutos. Daí a aparição de múltiplas formas de vida consagrada, através das quais a Igreja é « embelezada com a variedade dos dons dos seus filhos, (...) como esposa adornada para o seu esposo (cf. Ap 21,2) » (34), e fica enriquecida de todos os meios para cumprir a sua missão no mundo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Formar para liberdade - Reflexão 7


A palavra pedagogo, na sua etimologia grega, significa “aquele que conduz a criança”. Diz a história, que nos tempos gregos, o escravo conduzia as crianças até o filósofo para receber uma formação adequada.
Formar uma pessoa para liberdade, certamente é procurar conduzi-la a um verdadeiro auto-conhecimento, para que assim possa tomar a decisão certa, diante de uma opção de vida. Cabe então ao formador proporcionar ao formando um ambiente que o leve ser ele mesmo, sem nenhum tipo de coação ou recriminação.
“Um formador autêntico conseguirá criar um clima de franqueza e de confiança recíproca na relação. O formando o perceberá como um homem leal e digno de confiança, e por isso se sentirá ele mesmo estimulado a liberar-se dos mecanismos de defesa, a tirar as máscaras convencionais, a aceitar e admitir francamente os próprios limites” .
A franqueza e a sinceridade do formador em relação ao formando ajuda-o a encarar-se com coragem e a tomar a direção da própria vida. Porém, se o formador se esconde atrás do seu cargo e mostra uma maneira de ser que não é a sua, perde imediatamente a confiança e a autoridade. “Somente um formador autêntico será capaz de instaurar uma relação livre e genuína consigo mesmo, com os outros e com Deus. Somente um formador autêntico estará em condições de acompanhar a conquista da liberdade e da coragem para tornarem-se elas mesmas e de nutrir plena confiança em Deus” .
“Tantas vezes o formador se ilude pensando que deve ser um modelo em todos os campos, mas de maneira errada. Ser autêntico da parte do formador é reconhecer-se também humano, pecador, em busca, com falhas, erros e acertos. Este comportamento da sua parte ajudará ao formando a entender que o limite faz parte da pessoa humana, e que a coisa mais importante é a abertura no sentido de buscar sempre” .
O formador autêntico nunca se contenta e se estaciona em suas próprias idéias e atitudes, mas procura sempre caminhar, entrar no seu mundo interior e conhecer-se sempre mais. Isto é muito importante para o formando, o qual encontrará nele um modelo para seguir e procurará também ele entender-se, conhecer-se e viver de acordo com o seu interior. Rogers depois de muito tempo de prática terapêutica chegou à seguinte conclusão: “Constato ser mais eficaz quando posso escutar-me com aceitação e posso ser eu mesmo” . Numa relação educativa, quanto mais o formador é ele mesmo, mais será possível a transformação de modo construtivo do formando .
A autenticidade do formador ajudará o formando a dar espaço à verdade. No momento em que o formando escolhe ser autêntico, superou o desejo de mentir, está em paz consigo mesmo, não sente mais a necessidade de inserir véus ou imagens entre a sua identidade e o seu revelar-se, entre como é e como quer mostrar que é; se apresenta, não se representa. Um formador autêntico estimula eficazmente o formado a tornar-se si mesmo .
É importante sublinhar também que o formador deve, antes de tudo, amar a sua identidade vocacional. Deve estar bem consigo mesmo, tendo uma relação positiva com o seu mundo interior. Um formador inconsistente, imaturo é um grande obstáculo ao desenvolvimento normal do formando. “Uma imaturidade afetiva muito grande do formador reflete negativamente nos formados” .

Necessidade da mística

Tudo o que foi enunciado acima só será possível se o religioso estiver envolto em uma mística, em uma espiritualidade que seja capaz de impulsioná-lo a viver com mais profundidade as coisas do Reino. “O zelo por tua casa me devora” (Jo 2,17; Rom 15,3; Sl 68,10). Este, talvez, é o grande desafio de todos aqueles que se colocaram a serviço do Reino de Deus.
A realidade nua e crua da pós-modernidade só poderá ser enfrentada por consagrados com profunda experiência de Deus. Sem essa experiência, corre-se o risco da incoerência, da superficialidade e da fuga. Somente através do contato diário com o Senhor é que o consagrado encontrará o sabor pelas coisas de Deus. “Quando falta a experiência de Deus ou o sabor evangélico, a vida religiosa se converte em uma farsa, que envergonha os de dentro e escandaliza os de fora” . Sem uma mística, a pessoa terminará engolida pelas ardilezas do neoliberalismo. Uma espiritualidade forte ajuda a pessoa a resistir e não ceder a todas as tentações e provocações de um sistema perverso que tenta ludibriar a todos. Quando se fala de mística não está se referindo a ritualismos ou práticas piedosas, devocionais. A espiritualidade é essencialmente amor: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,8). Em outras palavras: quem não ama não faz nenhuma experiência mística !

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Atitudes proféticas - Reflexão 5

Quando se fala de profecia, automaticamente vem à mente a figura dos profetas do Antigo Testamento que anunciavam tempos melhores, mas, ao mesmo tempo, denunciavam as injustiças cometidas contra o povo e o distanciamento do mesmo em relação a Deus. A profecia dos tempos atuais se dá através de gestos concretos no que diz respeito ao despertar toda a Igreja e o povo em geral para a vivência dos valores fundamentais. A profecia por meio de gestos era muito comum nos tempo dos profetas bíblicos (Jer 19,1-13;24,1-10; Ez 4, 9-17; Os 1, 2-9).
Hoje ela continua tendo um significado profundo, mesmo porque os gestos falam mais do que as palavras. Esses gestos podem ser de acolhimento ou de ruptura. Acolhimento da vida, das pessoas. Ruptura com situações e atitudes que massacram a vida ou impedem a vida consagrada de ser ela mesma. Gestos de solidariedade, de cidadania em resposta ao grande desafio da exclusão, na defesa da vida e da ecologia. Gestos que ajudem a diminuir o grande abismo que se abriu entre o mundo científico-tecnológico e a visão religiosa, pastoral, das nossas comunidades eclesiais . Mas também gestos críticos, de lucidez e de discernimento, capazes de reagir ao individualismo e ao indiferentismo da nossa sociedade. Gestos que ajudem a romper com um desejo de retorno a um estilo de vida consagrada narcisista, distante do verdadeiro seguimento de Cristo. Gestos de lucidez e de discernimento no âmbito da espiritualidade para não se deixar condicionar por práticas e atitudes puramente emocionais, mas ao mesmo tempo recheadas de fanatismo, de fundamentalismo, de ritualismo e, sobretudo de evasão . Cresce também entre os católicos e entre certos consagrados um tipo de esoterismo elitista que leva as pessoas a refugiar-se “no simples prazer de liturgias belíssimas, de celebrações esplendorosas, sem perguntar-se pelo seu sentido teológico e nem pelas exigências de vida delas decorrentes” .
Portanto, o religioso deve denunciar corajosamente tudo o que contraria o projeto libertador de Deus. Terá de emprestar sua voz a todas as pessoas impedidas de gritar e reclamar por seus direitos. “Às pessoas consagradas é pedido que ofereçam seu testemunho, com a ousadia do profeta que não tem medo de arriscar a própria vida” (VC 85.)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vocação e liberdade: o convite de Deus direcionado ao coração do homem

O mês de Agosto é especialmente escolhido pela Igreja, para que se reflita sobre o mistério da vocação. Aqui nos deparamos com dois termos interessantes que vale a pena ser explicados um pouco melhor para que sua compreensão seja um tanto mais concordante com o que pensa a Igreja. Primeiro, a palavra mistério cujo significado que se aplica corriqueiramente é de algo escondido, ou que existência não é palpável, ou mesmo, inalcançável pelo ser humano.
Ora, na verdade, mistério equivale muito mais a algo que nós não o compreendemos bem ou bastante, mas é sim, algo visível, palpável, existente. Por exemplo, é um mistério para a grande maioria dos seres humanos o que faz o sol nos dá o calor; não o sabemos em detalhes; é pois, um mistério. Já os cientistas, que se dedicam a investigar este fenômeno – como ou do que se compõe este elemento, o que faz com que ele nos presenteie com o calor que todos nós sentimos e que mesmo nos é útil – sabem algo a mais que nós; para eles, não tão misterioso quanto o é para nós. Portanto, mistério nem sempre é algo totalmente escondido, mas sim algo com elementos não totalmente compreensíveis.
É nesta perspectiva, que nos aproximamos do segundo termo que é justamente vocação, normalmente entendida como predestinação, ou alguma coisa nesse sentido. Mas não é assim que a compreendemos nós, os cristãos. Vocação é antes de mais nada, uma resposta do ser humano a um chamado, que ele sente em seu coração, feito pelo próprio Deus. Vocação, diante disso, é como que a conseqüência do estabelecimento de uma relação entre o homem e Deus; como relação, na vocação ou na resposta vocacional está necessariamente implícita uma importante característica humana, a liberdade. Esta é fundamental em se tratando da decisão vocacional. Como nas relações entre nós, também na relação com Deus, se não há liberdade, não há verdadeira amizade, mas submissão. Portanto, vocação e liberdade caminham juntas. Não podemos verdadeiramente responder ao chamado de Deus se não nos sentirmos plenamente livres.
E por que essa preocupação em ser livre para responder de forma verdadeira ao chamado de Deus? Porque o chamado divino, não sendo de forma alguma imposição, é sempre um convite. E convites são aceitos, em sua maioria, se há alguma afinidade entre o que o convida e o que é convidado. Respondemos, pois, ao chamado de Deus, se temos alguma relação verdadeira com Ele; se não, tal convite nem sequer é ouvido ou não lhe negada a atenção merecida. Na verdade, dá-se atenção verdadeira a quem se ama; se há verdadeiro amor, há verdadeira atenção; o coração sempre arruma um tempo para quem nele habita. É por isso que Deus quando chama, dirige-se ao coração do homem. Quando, pois, o coração humano está aberto a Deus, então se responde livremente ao Seu chamado; quando não, este é simplesmente ignorado.
Temos um bonito exemplo disso sem dúvida com Samuel (cf. 1Sm 3,1-18). Ele habitava no santuário do Senhor. Podemos imaginar então que Samuel estava predisposto a ouvir a voz de Deus, se lhe fosse dirigida, porque, de algum modo, ele cultivava certa amizade com Deus. E assim acontece. O Senhor lhe chama, ele sente seu coração arder, mas sem saber bem do que se trata. Por ainda não conhecer mais ‘profundamente’ o Senhor quando é chamado vai ao encontro de Eli, o sacerdote. Este, por sua vez, discernindo aquele momento, o recomenda: se Ele te chamar outra vez diga ‘aqui estou’. E assim se fez. Percebemos bem explicitado o aspecto misterioso da vocação: Deus chama, escolhe e sem compreender muito bem nós o escutamos. Mas que tal escuta se efetive precisamos da ajuda de outros; sozinhos talvez não conseguiríamos discernir bem se o que sentimos é realmente Deus nos chamando ou são vozes adversas querendo nos confundir. Pode ser apenas imaginação. No caso de Samuel, quem ocupou essa função de intermediário no seu processo de discernimento vocacional foi o sacerdote.
Não por outro motivo, precisamos – para responder com mais propriedade ao desejo vocacional – que alguém já mais “conhecedor de causa” nos ajude. Esse pode ser um padre, religioso ou religiosa ou alguém que reconhecidamente seja capaz de, sensível aos apelos de Deus, possa ajudar outros a escutá-los também. Com efeito, a orientação que se recebe é sempre orientação, a decisão cabe a cada um. Pois nós somos livres para decidir se queremos ou não responder e que tipo de resposta dar àquilo que acreditamos ser “um chamado de Deus”, palpitante em nosso coração. Assim, fica o convite e a recomendação: não deixe de escutar a voz de Deus em seu coração; responda ao seu convite; arrisque-se. Decidir-se vocacionalmente é sempre arriscar-se nas prodigiosas, misteriosas, mas também incomparáveis e carinhosas mãos de Deus.
Fr. Antonio José Mouzinho de Sousa, SAC